Artigo escrito por
Marco Antonio Oliveira Neves, Diretor da Tigerlog Consultoria e Treinamento em
Logística Ltda
Reduzir os gastos com fretes é essencial para manter-se vivo no mercado!
Isso pode ser obtido através de um enfoque financeiro e/ou operacional.
A opção pelo viés financeiro normalmente leva os Embarcadores a uma pressão
negocial muito forte, que muitas vezes beira o terrorismo. Isso funciona? No
curtíssimo prazo sim, mas no médio prazo produzirá mais problemas do que trará
benefícios. É uma atitude simplista, imatura, abandonada por empresas que
privilegiam relações colaborativas e de longo prazo.
Nada contra você realizar uma sondagem no mercado e identificar
oportunidades de redução de custos através de tarifas mais competitivas. Não
opte simplesmente pela tarifa mais baixa, mas sim pela tarifa mais baixa
possível. Um estruturado processo de RFI (Request for Information) e RFP
(Request for Proposal) levará, com certeza, a soluções mais econômicas. Se você
nunca fez e não sabe como fazer, procure auxílio de consultorias
especializadas.
Tenha em mente, de forma muito clara, o nível de serviço desejado, para não
obter tarifas mais baixas mediante a exposição a maiores riscos em segurança ou
a níveis de serviço muito baixos.
Procure também uniformizar o sistema tarifário. Dessa forma você evitará o
pagamento de extras que muitas vezes não são controlados devidamente. Além
disso, a comparação entre os diferentes Transportadores lhe permitirá
visualizar discrepâncias relevantes, como por exemplo, um parceiro que cobra
uma taxa de R$ 8,50 por CTRC emitido (taxa de despacho) e outro que cobra R$
15,00.
Ainda sob o ponto de vista financeiro você pode renegociar as tarifas,
atrelando-as a mecanismos de penalização ou bonificação. Fáceis de serem desenhados
na teoria, são de difícil mensuração e aplicação prática. Melhor deixar essa
carta na manga!
Então, o que fazer?
Priorize a visão operacional. Pode parecer mais complexo e mais demorado,
mas com certeza produzirá resultados muito mais consistentes.
Comece revendo o seu modelo operacional, primeiro sob o ponto de vista da
quantidade de parceiros utilizados. Devo centralizar o frete em poucas empresas
ou pulverizá-lo em diversas transportadoras, especializadas em determinadas
mesorregiões? Isso vai refletir diretamente na estrutura de gestão (organograma
e quadro operacional) na sua empresa; é importante avaliar o custo x benefício.
Aproveite também para avaliar o perfil de parceiro desejado. Avalie as
hipóteses, sob o ponto de vista qualitativo e quantitativo, de utilizar
Operadores Logísticos, grandes e médias Transportadoras, pequenas ou
microempresas e até autônomos. Algumas empresas vão além, e avaliam inclusive a
hipótese de contar com frota própria.
Realize auditorias técnicas em seus parceiros, com uma frequência mínima de
6 meses. Através de um check-list previamente definido, aponte as deficiências
existentes e desenvolva em conjunto com seus parceiros um plano de ação com
iniciativas de curto, médio e longo prazo. Dessa forma estará claro o que você
deseja e valoriza, e onde ele deverá investir seus recursos financeiros.
Reveja também seu modelo de distribuição. Devo manter um Centro de
Distribuição do qual partirão todas as cargas ou é possível reduzir custos e
melhorar o nível de serviço com a utilização de Centros de Distribuição
Avançados (CDA) e Cross-Dockings?
Pense mais além ainda e examine a possibilidade de desenvolver projetos
colaborativos, envolvendo a troca de informações para maior visibilidade, o
desenvolvimento de embalagens e formas alternativas para a unitização de
cargas, o compartilhamento de capacidade no frete retorno, questões fiscais e
tributárias, etc.
Informação é uma questão crucial para reduzir os gastos com transportes.
Verifique como obter, através de interfaces, os dados da operação, se possível
em tempo real, com o intuito de minimizar as não conformidades em transportes,
como avarias, devoluções, reentregas, multas aplicadas por clientes, etc. Isso
representa, em média, 10% a 15% a mais de frete por ano.
Aprimore também a sua sistemática de gestão, através de um novo modelo
contratual e de SLAs (Service Level Agreement) claramente definidos. E
desenvolva uma prática de gestão que estimule o envolvimento de seus parceiros,
ainda mais se puder aplicar as tradicionais ferramentas de gestão da qualidade
total (PDCA, Espinha de Peixe, 5W2H, etc.). Evite, sempre que possível,
atitudes punitivas.
Há muito o que fazer. Procure trabalhar junto de seus parceiros. É mais
justo, mais fácil e mais consistente. Não existem fórmulas mágicas e tampouco
milagres. O que existe na verdade é muito trabalho pela frente e um imenso
campo para a melhoria contínua na operação de transportes. Bom trabalho!