quarta-feira, 23 de abril de 2014

Bicicletas, uma possível saída para o trânsito caótico das grandes cidades brasileiras ?

Artigo escrito por Marco Antonio Oliveira Neves, diretor da Tigerlog Consultoria e Treinamento em Logística Ltda

Recentemente estive em Amsterdã e pude comprovar a eficiência no transporte de pessoas através bicicletas.

Amsterdã tem mais bicicletas do que habitantes. Censo recente, do início deste ano de 2014, apontou que a cidade conta com quase 800 mil habitantes e com 881 mil bicicletas.

O que explicaria o sucesso desse fenômeno, que segue na contramão de grandes cidades como Paris, Roma, Londres, São Paulo, Rio de Janeiro, Cidade do México, Moscou, etc.?

A Holanda é considerada um dos Países Baixos, ou seja, com grande parte de seu território abaixo do nível do mar. Seu relevo é plano, o que torna a bicicleta um meio de transporte bastante conveniente. Embora a cidade de Amsterdã tenha um sistema de transporte público muito eficiente e barato, através de bondes elétricos, ele responde por apenas 11% do total de quilômetros percorridos diariamente pelas pessoas, em suas atividades de lazer, trabalho ou estudo; mais de 70% da distância diária é coberta por bicicletas! Para que se tenha uma boa noção da disparidade desse número, basta saber que na União Europeia esse número é de apenas 7%.

A cidade tem aproximadamente 400 quilômetros de ciclovias. São vias devidamente sinalizadas, e separadas das ruas por onde circulam os bondes elétricos e os carros. Na Holanda o uso de capacete não é obrigatório, como ocorre no Reino Unido; isso acontece porque as ciclovias contam com vias exclusivas para a circulação em sentidos contrários. Raramente você observará um ciclista circulando no fluxo inverso.

As leis de trânsito também favorecem os ciclistas, no "convívio" diário com os veículos motorizados. E são muito respeitadas pelos motoristas locais. Mas também existem leis que obrigam os ciclistas a terem um comportamento adequado.

Além de seu relevo plano, a Holanda é também um país muito pequeno, com distâncias muitos curtas entre bairros e cidades. A grande maioria dos deslocamentos não chega a 10 km. Isso ajuda, e muito!

Outra razão para o sucesso das bicicletas em Amsterdã remonta ao seu passado. A configuração da cidade se consolidou no século XVII, numa época em que não existiam carros, mas apenas cavalos, carruagens e barcos. O espaço limitado pelos canais da cidade inviabiliza, atualmente, o uso de veículos.

Escolas, empresas, repartições públicas e atrações turísticas estão preparadas para as bicicletas, e contam com estacionamentos e garagens apropriadas. Pessoas bem vestidas, muitas de terno, utilizam suas bicicletas para se locomover pela cidade.

Embora estejamos falando de um país de Primeiro Mundo, cerca de 55.000 bicicletas são roubadas por ano em Amsterdã; nem tudo na Europa funciona perfeitamente como às vezes acreditamos no Brasil.

O uso de bicicletas não se limita apenas ao transporte de pessoas. É comum vermos o transporte de pequenas encomendas em bicicletas. Obviamente, grandes volumes demandam a utilização de veículos urbanos de carga.

Em Amsterdã deu certo, mas e nas grandes cidades brasileiras, poderá certo?

Particularmente, acredito que ainda não. Ainda demorará muito, mas muito mesmo para nos estruturarmos da forma devida. Não basta criar ciclovias; é necessário criar leis rígidas e punições severas para motoristas e ciclistas irresponsáveis, ciclovias interligando os bairros e as cidades mais próximas, e devidamente segregadas das vias no qual circulam os veículos, e uma infraestrutura de apoio, que garanta a guarda das bicicletas, até a sua nova utilização.

Quantos bancos, escolas, empresas, repartições públicas, etc., estão prontos para receber milhares de bicicletas diariamente? Quantos motoristas contam com a educação devida para dividir o espaço público com as bicicletas? Quantas pessoas estarão dispostas a abrir mão de seu status para deixar em casa o seu belo e caro carro, para viajar em uma simples bicicleta?

Mas, precisamos começar. As cidades do Rio de Janeiro, Curitiba, Florianópolis, Campo Grande, Fortaleza, Aracaju, Brasília, Santos, Praia Grande e Sorocaba estão dando belos exemplos para todos os brasileiros. Pode ainda não ser a situação ideal, mas já apresentam resultados interessantes. É importante que outras cidades, de grande e médio porte deem seu pontapé inicial, e plantem uma semente que proporcionará excepcionais frutos para toda a sociedade!

E se puder, um dia vá a Amsterdã e veja você mesmo como funciona uma cidade com tantas bicicletas. Você vai adorar!

Um comentário:

  1. Prefeituras deveriam enviar seus engenheiros de trânsito à essa cidade para que eles possam entender melhor a importância da bicicleta no trânsito urbano.

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