Artigo escrito por Marco Antonio Oliveira
Neves, diretor da Tigerlog Consultoria e Treinamento em Logística Ltda
Recentemente
estive em Amsterdã e pude comprovar a eficiência no transporte de pessoas
através bicicletas.
Amsterdã
tem mais bicicletas do que habitantes. Censo recente, do início deste ano de
2014, apontou que a cidade conta com quase 800 mil habitantes e com 881 mil
bicicletas.
O
que explicaria o sucesso desse fenômeno, que segue na contramão de grandes
cidades como Paris, Roma, Londres, São Paulo, Rio de Janeiro, Cidade do México,
Moscou, etc.?
A
Holanda é considerada um dos Países Baixos, ou seja, com grande parte de seu
território abaixo do nível do mar. Seu relevo é plano, o que torna a bicicleta
um meio de transporte bastante conveniente. Embora a cidade de Amsterdã tenha
um sistema de transporte público muito eficiente e barato, através de bondes
elétricos, ele responde por apenas 11% do total de quilômetros percorridos
diariamente pelas pessoas, em suas atividades de lazer, trabalho ou estudo;
mais de 70% da distância diária é coberta por bicicletas! Para que se tenha uma
boa noção da disparidade desse número, basta saber que na União Europeia esse
número é de apenas 7%.
A
cidade tem aproximadamente 400 quilômetros de ciclovias. São vias devidamente
sinalizadas, e separadas das ruas por onde circulam os bondes elétricos e os
carros. Na Holanda o uso de capacete não é obrigatório, como ocorre no Reino
Unido; isso acontece porque as ciclovias contam com vias exclusivas para a
circulação em sentidos contrários. Raramente você observará um ciclista
circulando no fluxo inverso.
As
leis de trânsito também favorecem os ciclistas, no "convívio" diário
com os veículos motorizados. E são muito respeitadas pelos motoristas locais.
Mas também existem leis que obrigam os ciclistas a terem um comportamento
adequado.
Além
de seu relevo plano, a Holanda é também um país muito pequeno, com distâncias
muitos curtas entre bairros e cidades. A grande maioria dos deslocamentos não
chega a 10 km. Isso ajuda, e muito!
Outra
razão para o sucesso das bicicletas em Amsterdã remonta ao seu passado. A
configuração da cidade se consolidou no século XVII, numa época em que não
existiam carros, mas apenas cavalos, carruagens e barcos. O espaço limitado
pelos canais da cidade inviabiliza, atualmente, o uso de veículos.
Escolas,
empresas, repartições públicas e atrações turísticas estão preparadas para as bicicletas,
e contam com estacionamentos e garagens apropriadas. Pessoas bem vestidas,
muitas de terno, utilizam suas bicicletas para se locomover pela cidade.
Embora
estejamos falando de um país de Primeiro Mundo, cerca de 55.000 bicicletas são
roubadas por ano em Amsterdã; nem tudo na Europa funciona perfeitamente como às
vezes acreditamos no Brasil.
O
uso de bicicletas não se limita apenas ao transporte de pessoas. É comum vermos
o transporte de pequenas encomendas em bicicletas. Obviamente, grandes volumes
demandam a utilização de veículos urbanos de carga.
Em
Amsterdã deu certo, mas e nas grandes cidades brasileiras, poderá certo?
Particularmente,
acredito que ainda não. Ainda demorará muito, mas muito mesmo para nos
estruturarmos da forma devida. Não basta criar ciclovias; é necessário criar
leis rígidas e punições severas para motoristas e ciclistas irresponsáveis,
ciclovias interligando os bairros e as cidades mais próximas, e devidamente
segregadas das vias no qual circulam os veículos, e uma infraestrutura de
apoio, que garanta a guarda das bicicletas, até a sua nova utilização.
Quantos
bancos, escolas, empresas, repartições públicas, etc., estão prontos para
receber milhares de bicicletas diariamente? Quantos motoristas contam com a
educação devida para dividir o espaço público com as bicicletas? Quantas
pessoas estarão dispostas a abrir mão de seu status para deixar em casa
o seu belo e caro carro, para viajar em uma simples bicicleta?
Mas,
precisamos começar. As cidades do Rio de Janeiro, Curitiba, Florianópolis,
Campo Grande, Fortaleza, Aracaju, Brasília, Santos, Praia Grande e Sorocaba
estão dando belos exemplos para todos os brasileiros. Pode ainda não ser a
situação ideal, mas já apresentam resultados interessantes. É importante que
outras cidades, de grande e médio porte deem seu pontapé inicial, e plantem uma
semente que proporcionará excepcionais frutos para toda a sociedade!
E
se puder, um dia vá a Amsterdã e veja você mesmo como funciona uma cidade com
tantas bicicletas. Você vai adorar!
Prefeituras deveriam enviar seus engenheiros de trânsito à essa cidade para que eles possam entender melhor a importância da bicicleta no trânsito urbano.
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