segunda-feira, 22 de julho de 2013

Artigo: Os custos de transportes continuarão aumentando...e agora


Artigo escrito por Marco Antonio Oliveira Neves, Diretor da Tigerlog Consultoria e Treinamento em Logística Ltda
 Parece exagero mas não é. Alguns dirão que é uma visão pessimista do futuro, mas também não é. Essa é a realidade. Isso é certo. Os custos com o transporte de cargas continuarão aumentando nos próximos anos. Mas por que isso ocorrerá.
 Primeiro, pense nos principais itens de custo de uma operação de transportes. Na média e longa distância se destacam tanto os custos fixos como os variáveis, envolvendo diesel, pneus, manutenção, motorista, depreciação do veículo e remuneração do capital investido nos ativos operacionais. Na curta distância e na distribuição urbana preponderam os custos fixos, que chegam a representar 70 por cento a 80 por cento dos custos totais, no qual sobressaem os gastos com a tripulação, depreciação do veículo e a remuneração do capital.
 Segundo, precisamos ter em mente que a operação de transportes é também dependente de ativos operacionais. Não se opera sem a frota de longo percurso e sem veículos de coleta e entrega na carga fracionada. Também não se opera sem uma infraestrutura mínima de terminais de carga e até de armazéns. Tudo isso custa caro, muito caro. E é claro, tudo isso depende de muita gente para que funcione adequadamente, sem se transformar em um gargalo para a operação de transportes. Toda vez que alguma restrição desequilibra o sistema, mais gente é contratada como forma de tentar contornar ou até solucionar o problema.
 É aí que reside o problema. Essa alta dependência do capital humano pode ser considerada a raiz de todos os problemas que levarão ao aumento dos custos com transportes. Não que os outros componentes do custo possam ser colocados em um nível inferior de importância, mas a questão da mão de obra é mais complexa. Teremos aumentos de custos com diesel, pneus, peças de manutenção, pedágio, etc., mas teremos uma pressão ainda maior oriunda da mão de obra.
 A operação de transportes é caracterizada por ser de mão de obra intensiva. Envolve gente, muita gente. Não apenas os motoristas, mas também ajudantes na entregas urbanas, pessoal envolvido na gestão (área de tráfego) e outros recursos na carga e descarga dos veículos ao longo de todo o fluxo operacional.  E gente custa caro. Não apenas salários, mas também os encargos sociais e os benefícios, cada vez mais representativos na tentativa de atrair e reter os melhores profissionais.
 Dentre o enorme contingente de pessoas necessárias para a operação de transportes, podemos destacar a posição dos motoristas, personagem vital na operação e protagonista dessa complexa atividade chamada transporte.
 A profissão de motorista, desvalorizada há muitos anos, vem recuperando seu valor, muito em função de uma questão primária, de oferta e demanda. A demanda por novos motoristas é muito grande, enquanto que a oferta é limitada. Daí o aumento do custo com motoristas.
 A atividade de motorista passa por um momento delicado. A velocidade de reposição dos profissionais no mercado é muito inferior à necessidade existente. Representantes do setor de transporte de cargas falam em um déficit de 150 mil motoristas no Brasil. É um número altamente representativo, que representa cerca de 8 por cento da nossa frota, e que deverá se agravar nos próximos anos.
 Pouco atrativa, não apenas pela questão da remuneração, mas também pelas próprias condições de vida, a profissão de motorista não é bem vista pela nova geração, que tem hoje entre 20 e 30 anos de idade.
 A possibilidade de conhecer o Brasil, de desbravar novas regiões, de trabalhar com relativa liberdade, e de ainda aspirar a ser o dono de seu próprio caminhão ou de até de uma frota de veículos (como realmente acontecia no passado), não atrai mais os novos profissionais. Hoje eles querem perspectivas mais concretas de crescimento, rápida ascensão a novas posições, status, bons (e garantidos) rendimentos financeiros, etc. Querem também um melhor equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, algo praticamente impossível nessa conturbada profissão de motorista.
 A demanda por novos motoristas será reforçada pela necessidade de substituir os profissionais autônomos, que aos poucos serão absorvidos pelas pequenas, médias e grandes transportadoras, já que é particamente certa a morte de grande parte dessa importante categoria, em função das dificuldades financeiras para a manutenção e renovação da frota. Até quando operarão sem a modernização ou substituição dos veículos atuais.
 A baixa produtividade operacional é um outro fator que colabora para agravar ainda mais a questão da necessidade de novos motoristas para o setor do transporte de cargas. Os excessivos tempos perdidos na espera para carga e descarga ou em congestionamentos nas grandes cidades interferem de forma direta na produtividade da frota. Deixamos de fazer mais com menos; pelo contrário, acaba existindo uma demanda cada vez maior por mais veículos, mais espaço e mais gente.
 A nova lei que disciplina a jornada de trabalho do motorista profissional (lei 12.619 de 30/04/2012) e que limita em 10 horas por dia a atuação do motorista, também contribui para uma maior demanda por profissionais. Para evitar que os caminhões fiquem mais da metade de seu tempo diário parado, dificultando a diluição dos custos fixos e a obtenção de receitas adicionais, as Transportadoras são obrigadas a buscar mais mão de obra.
 Devido a esses fatores e a outros secundários de menor importância, a categoria tem obtido valorização acima da média do mercado e dos indicadores oficiais do Governo. Se o piso da categoria está ao redor de 1.800,00 reais (base motorista carreteiro em São Paulo), na prática temos motoristas apresentando ganhos superiores a 3.500,00 reais por mês. As Transportadoras estão se desdobrando com verdadeiras fórmulas mágicas para complementar  a remuneração de seus motoristas para não perdê-los para outras empresas e até setores.
 Enquanto não atingirmos um ponto de equilíbro entre a oferta e a demanda por profissionais, o custo continuará aumentando. A questão é: como resolver esse problema. O que fazer para atrair novos profissionais, sem ampliar os custos com a contratação da mão de obra. Na verdade, não há muito o que ser feito. Como pagar apenas 2.000,00 reais ou  2.500,00 reais a um profissional que utiliza um ativo de 250.000,00 reais a 500.000,00 reais, transportando cargas de milhares (ou até milhões) de reais.
 Todos teremos que trabalhar muito para buscar ações compensatórias, que minimizem o impacto do aumento dos custos. Embarcadores e Transportadoras precisarão avançar na gestão da atividade de transportes e na atuação colaborativa, caso contrário, se tornarão agentes passivos e verdadeiros reféns dos custos operacionais. É isso que você deseja.
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Um comentário:

  1. Os empresários do transporte precisam se unir neste momento de transição em que o mercado altera o setor, pois a indústria precisa entender que para usar o transporte hoje, o custo é alto e que terão que destinar uma porcentagem maior em seus custos devido a todas estas questões apontadas acimas, porém , quem deve impor isto à indústria serão nós, transportadores, juntos e unidos, até que o mercado volte a trabalhar em um valor de frete saudável financeiramente. Os transportadores precisam se reunir, o quanto antes, estipular uma margem mínima de valor de frete, para que consigamos mudar a indústria nesta questão de enxugar seus custos e usar os fretes como um destes itens para ter um custo menor, pois terão de começar a pagar um valor, alto, e claro justo, para transportar.

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