sexta-feira, 29 de junho de 2012

Artigo: O Perigoso Enfraquecimento do Transporte Rodoviário de Cargas (TRC) no Brasil



Artigo escrito por Marco Antonio Oliveira Neves, Diretor da Tigerlog Consultoria e Treinamento em Logística Ltda.

O transporte tem como finalidade primária equalizar o diferencial espacial e econômico entre oferta e demanda, ou seja, tem como missão principal aproximar mercados.

Sem um transporte adequado, empresas e nações perdem competitividade, comprometendo a viabilidade econômico-financeira de seus produtos e serviços.

Embora o Brasil apresente dimensões continentais que justificassem a utilização do modal ferroviário e aquaviário em larga escala principalmente nas médias e longas distâncias, somos um país com predomínio de transporte rodoviário de cargas, muito em função da priorização dos investimentos realizados pelo setor público nas últimas décadas, mas também por outros fatores como a falta de regulamentação do setor, excesso de oferta e pela incapacidade dos outros modais de realizar um bom atendimento aos Clientes.

Por que falar então em enfraquecimento do TRC se o modal rodoviário responde por aproximadamente 65% do total movimentado no Brasil?

Vários são os fatores que estão levando à "perigosa" deterioração do setor de transporte rodoviário de cargas no Brasil.

Um deles é a total ausência do poder público no desenvolvimento e atualização da infraestrutura de transporte. Na última década foi investido uma média de (apenas) 0,20% do PIB ao ano, enquanto que outros países em desenvolvimento direcionam cifras equivalentes a 5% a 10% do PIB a cada ano. Não precisaríamos de uma Copa do Mundo ou Olimpíadas para justificar tais investimentos; isso deveria ser um "dever de casa" dos órgãos públicos, para garantir a expansão econômica do país, alicerçada em custos competitivos, alta produtividade e serviços diferenciados. E não faltam recursos para tal; apenas a CIDE (Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico) arrecadou mais de R$ 70 bilhões entre 2002 e 2011, porém menos de 25% disso foi efetivamente investido na infraestrutura de transportes.

As condições precárias das estradas brasileiras afetam diretamente os custos e o nível do serviço prestado pelo setor de transportes. Pesquisa da CNT aponta que estradas em estado de conservação ruim geram um acréscimo de mais de 65% nos custos operacionais; se péssimo, vai a mais de 91%! Enquanto que a UPS, a DHL e a Fedex entregam mercadorias em até 48 horas em mais de 200 países do mundo a partir dos Estados Unidos e da Europa, no Brasil precisamos do mesmo prazo para entregar de uma cidade a outra, dentro de um raio de 500 km.

A falta de regulamentação do mercado de transportes também afeta o nível de competitividade do setor, pois leva ao "nivelamento" das empresas por baixo. Mesmo com a nova lei que trata da jornada de trabalho do motorista profissional (lei 12.619), ainda faltam eficientes mecanismos de controle para viabilizar uma evolução qualitativa do setor. A verdade é que existem poucas barreiras para novos entrantes no mercado, mas muitas barreiras para a saída. Com a grande quantidade de empresas no mercado, a maioria de micro e pequeno porte, reduzimos o poder de barganha das Transportadoras ao negociar com seus Clientes.

Também não contamos com uma política pública para a administração da idade da frota dos veículos de carga no Brasil, que hoje é superior a 16 anos, enquanto que especialistas do mundo todo pregam valores próximos a 8 anos.

A dinâmica do mercado e do relacionamento entre Embarcadores (tomadores de frete) e Transportadoras também preocupa. As relações ganha-perde, quase que sempre a favor do contratante do serviço, acarretam em desvantagens financeiras para as Transportadoras. A verdade é que a maioria delas sequer tem condições de custear os serviços prestados e acabam utilizando "parâmetros" de mercado para estabelecer a sua política de preços. É muito comum as Transportadoras aplicarem descontos irracionais sobre as tabelas de fretes praticadas por seus concorrentes, sem qualquer análise prévia. Muitos compradores de fretes, adotando posturas "terroristas", aproveitam-se dessa situação para ganhar (ou melhor seria tripudiar?); essa atitude, unilateral e egoísta, aliada à falta de preparo do lado oposto, contribui de forma decisiva para a involução do mercado.

Por fim, temos a questão da produtividade operacional. Os altos tempos de carga e descarga, aliados às intermináveis (e caras) esperas derrubam o nível de aproveitamento dos ativos operacionais. Embora os custos fixos estejam "instalados", as receitas geradas por cada veículo individualmente são cada vez menores. Perigosa combinação, não?

Perigoso também é o roubo de cargas no Brasil, que vem aumentando ano a ano, levando as Transportadoras a terem que adotar Programas de Gestão de Risco (PGR) cada vez mais sofisticados e caros. E quem paga essa conta? Parte dela é remunerada pelos Embarcadores através do % GRIS, mas parte não,  sendo absorvida pelo próprio Transportador.

Como quebrar esse ciclo vicioso que colabora diretamente para a comoditização do mercado? Como reverter o efeito nocivo que corrói a rentabilidade do setor de transportes, que necessita obrigatoriamente de retorno financeiro para o contínuo reinvestimento em frota, terminais, tecnologia, capacitação e retenção de pessoal, etc.? Se não quebramos esse ciclo, ele se encarregará de quebrar as Transportadoras.

Esse processo, lento e silencioso, está contribuindo para a destruição de uma atividade econômica altamente estratégica para o Brasil. Sem uma indústria forte no setor de transportes, o frete encarecerá as mercadorias de forma a tornar inviável a atuação do Brasil no mercado internacional, principalmente na exportação de commodities.

Já faltam motoristas. Em breve também faltarão empresários interessados em investir no setor. Será que inventarão o teletransporte a tempo de evitarmos as graves consequências de um setor falido e incapacitado para prestar um serviço adequado?

Segue nossa programação de treinamentos para o mês de Julho e Agosto/2012
  • 14/07 Excelência na Gestão de Almoxarifados, das 8h as 17h, local Mercure Privilege São Paulo - SP, Investimento 600,00;
  • 02/08 Lean Logistics Six Sgima aplicado a Armazéns, das 8h as 17 h, local Novotel Ibirapuera, São Paulo - SP, Investimento 600,00;
  • 06 e 07/08 Gestão das Empresas de Transporte de Cargas, das 8h as 20h, local Novotel Ibirapuera, São Paulo - SP, Investimento 1.500,00;
  • 13 e 14/08 Excelência na Gestão Financeira  das Empresas de Logística e Transportes, das 8h as 20h, local Mercure Privilege, São Paulo SP, Investimento 1.500,00;
Nova turma para o treinamento Formação de Engenheiros Logísticos de 26 a 29/11. Inscrições abertas.

Maiores informações acesse www.tigerlog.com.br em Agenda de Treinamentos ou através do e-mail treinamento@tigerlog.com.br 

Um comentário:

  1. Artigo completo, como investir? para muitos embarcadores hora parada é repudiada ou nunca ouviram falar, reajustes sempre abaixo do ideal, a ruptura e imitente, bons ventos seriam a regulamentação com as últimas Leis agora quem cumpre? que fiscaliza? como dito o nivelamente é por baixo, até o informal quebrar quantas transportadoras já desistiram de seus negócios, como investir em ativos de que podem chegar a até 500 mil por conjunto sem a garantia de rentabilidade e bom assim vamos "derivando" e "integrando" sem chegar a resultado algum...

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